31 março 2007
Classe Média (Max Gonzaga)
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida.
(clique AQUI para ver e ouvir)
Homenagem ao Mestre Kléber, companheiro de vida estudantil. Mesmo com suas piadas hilárias, exemplo de honradez e luta!!!
Atraso corporativo
Agora, quando os enfermeiros teriam a ocasião de demonstrar de fato quanto prezam a até há pouco defendida filosofia da interdisciplinaridade em benefício do paciente, dão mostras de um corporativismo que em nada deixa a dever ao dos médicos. Pior, tomaram medidas que tiveram o efeito prático de piorar a prestação dos serviços de saúde na rede pública de São Paulo.
Só o desejo de gerar empregos para o topo da categoria é que explica a atitude do Conselho de exigir, pelo instrumento da resolução, que enfermeiros com curso superior estejam presentes em todos os procedimentos para a retirada de córneas, que vinham sendo realizados por técnicos em enfermagem -também vinculados ao Coren.
Córneas não são vascularizadas, o que torna sua captação bastante fácil. Enquanto um rim ou um fígado precisam ser retirados com o coração do doador cadavérico ainda pulsando, córneas podem ser extraídas até seis horas após o óbito por um único profissional devidamente treinado -o que simplifica e barateia os transplantes.
A decisão do Coren, entretanto, levou o Banco de Olhos de Sorocaba, responsável por 100% dos transplantes no Estado, a paralisar suas atividades no dia 24 de fevereiro. A instituição diz que, para atender à resolução, precisaria contratar 60 enfermeiros, o que triplicaria seus custos.
Nesse meio tempo, os transplantes de córneas no Estado -serviço que funcionava relativamente bem- caíram brutalmente. Em fevereiro haviam sido 434 cirurgias. Em março, foram pouco mais de 200.
Mais uma vez, razões corporativas conspiram contra o interesse público. Não é a primeira nem será, infelizmente, a última vez.
30 março 2007
Tentando entender a movimentação “popular”
A manifestação pela paz realizada
Quando a sociedade se organiza a fim de buscar direitos adquiridos, o progresso na detecção e solução dos problemas agiliza-se, pois a pressão popular é ainda um dos meios mais eficazes para a mudança de uma situação em uma democracia. A partir disso, a “Manifestação pela Paz e Segurança” conseguiu chamar a atenção das autoridades competentes, mostrando que a população está cansada de ações ineficazes de combate à violência. A presença da imprensa municipal, regional e estadual mostrou a importância dada a atos como este.
Deve-se, entretanto, olhar com um pouco mais de atenção a real finalidade da manifestação. Em comunicado não assinado distribuído durante a passeata, a idéia de que o poder municipal lava as mãos fica clara. Em dado momento lê-se: “A administração Municipal com amplo apoio do empresariado local, já esgotou a sua capacidade de resolver este problema, de responsabilidade do estado, com seus recursos próprios” (grifos meus). Como “esgotou a sua capacidade?” É um atestado de ineficiência?
A manifestação seria uma oportunidade ímpar para os políticos presentes (e já que estavam lá) mostrarem a sua vontade de inverter esta situação. Um mea culpa já seria um começo. O que se ouviu durante todo o ato foi a necessidade urgente do aumento do efetivo policial militar (de 64 para 120), como se isso fosse a solução para todos os problemas. Lugares onde a violência reinava absoluta e que conseguiram resolver ou amenizar isso, só foram capazes disso quando ações sociais locais entraram em funcionamento, casos de São Carlos (SP), Jardim Ângela