18 janeiro 2006

Ser ou não ser de ninguém?

Tudo bem. Estou devendo complemento de textos anteriores. Mas precisava publicar este. Todos já devem ter lido. O texto é antigo. Há muito que corre pelos e-mails e pelos blogs desse mundão. E aqui está. É do Arnaldo Jabor, que nem gosto muito, principalmente depois de se auto-plagiar na Folha e de suas aparições muitas vezes conservadoras demais no Jornal Nacional.

Na hora de cantar, todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" dirigem-se aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.

A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, de que "toda ação tem uma reação"?

Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja, é preciso comer o bolo todo e, nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois e sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc. Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram.

'Ficar' também é coisa do passado.

A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim, como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas.

Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas, e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar. Já dizia o poeta que "amar se aprende amando". Assim, podemos aprender a amar os relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos. E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento ... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da tão sonhada felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins. Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer ...

É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão ....

Sejamos de alguém...

(Dedicado a alguém muito especial, que me lembrou como é bom ser de alguém...)

14 janeiro 2006

Tudo bem!

Não sei o que você quis dizer com brava amiga...
Receio que escreveu pensando na infinidade de significados...rsss
Desculpe a brabeza aquele dia...TPM!
Continue me encantando com seus textos!
Beijos

08 janeiro 2006

A queda

Acordo. O chão não está longe.
Pulo. A noite parecia tranqüila.
Passam rápidas as janelas... Zuuummm.
Abro os braços, vejo o mundo:
Vento vem vibrando forte
traz vozes diversas, difusas:
a coisa é difícil.... eu te amo....
...seu miserável ... eu te amo ...
Misturas.
Os olhos começam a ver a vida
(ou a morte?)
Na televisão percebo um rosto
tenso e negro e triste e pobre, triste
vida vista na tela do mundo.
Abaixo, um bmw atropela uma velha
ou um cão. Não importa papai.
O chão está chegando.
Diga que amo a ....trôôôôôuuu.
(Gilmar)

Corpos...

Tuti tuti tuti tuti totototo tuti tuti tuti tuti totototo...
E o ritmo daqueles sons eletrônicos fazia com que os corpos estivessem despreocupados com os outros ritmos da vida. Naquela noite buscava apenas isso. Dançar novas danças, beber mais que seu corpo suportava, beijar bocas sedentas por beijos e roçar seu corpo em corpos desconhecidos, corpos de uma noite. E este filme continuou sendo o seu filme por um longo caminho, pois a vida podia muito bem se resumir a isto. Danças e beijos e seios e gemidos. Todos num mesmo ritmo, mesmo sendo dias e personagens diferentes. Mesmo não sendo vida.
Um dia cansou desse vazio de sentimentos e buscou paz e abrigo em um outro corpo, um desses de verdade, dotados de algo que Descartes disse ser necessário para a nossa existência, o tal do pensar. E este corpo não se embalava apenas pelos tuti tuti tuti, ele exigia mais. Exigia que também aquele corpo sem cabeça se preparasse para recebê-lo. Mas como, se por toda vida ele nunca se preocupara com isso? E finalmente percebeu, que o seu vazio de sentimentos era uma indicação da transformação prestes a ocorrer. Apesar de óbvio, somente algo vazio poderia ser enchido, e ele estava preparado para esta mudança...
(Gilmar)

06 janeiro 2006

Paraíso...

A viagem chegara ao fim... Oito dias de esquecimentos e felicidade. E então voltara pensando porque a vida não podia ser uma eterna viagem, um eterno deslumbrar com as coisas, um caminhar em solo inexplorado, uma mente vazia de idéias minúsculas... E desconhecia a resposta para sua indagação. Já havia lido nos tantos livros de auto-ajuda ganhados que é fácil chegar à felicidade. Mas se achava ignorante demais para entender o caminho. Talvez porque sempre escolhesse caminhos mais complicados para sua compreensão. Talvez porque fosse meio ignorante mesmo. E no fim julgava-se certo. Algo deveras humano, diga-se, esse negócio de se julgar certo. E então, lembrou-se de algo mais humano ainda: colocar a culpa em alguém. E então culpou Adão e Eva. E dormiu tranqüilo outra vez.

Sonhou com Darwin.

(Gilmar)

04 janeiro 2006

Torquato Neto


Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela...
E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi.

O Quereres

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão
Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói

Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és
Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'nroll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inseticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim.
(Caetano Veloso)

02 janeiro 2006

Querer...

Em alguns momentos há certas perseguições gramaticais, como se fossem sinais, tentando me mostrar algo, sempre que me arrisco escrever. Percebi que o não e o quero estão de modo constante em meus pseudotextos. Acabei de ler um pouco sobre Freud. Mesmo quando se faz algo consciente (se é que existe a possibilidade de se escrever um texto usando apenas a consciência. Pelo menos muitos deles!) o inconsciente insiste em me cutucar. Pois há em mim uma luta eterna entre o querer e o não. Quero tanta coisa e quase sempre há um não martelando minhas vontades, privando-me de arriscar um pouco mais, de mostrar-me mais, de ser um pouco mais empolgado com a vida, com o mundo. Não (de novo!!!) querendo misturar as coisas, mas também acabei de ver o novo King Kong. Senti-me um pouco como ele. Avesso aos outros, diferente talvez. Só com uma característica ainda pouco evidenciada (em mim, claro): a luta (no caso dele bastante física...) em busca de seu verdadeiro amor. O capítulo sobre Freud e as três horas no cinema compensaram. Agora só falta agir.

01 janeiro 2006

A Primeira...

Não sei o que acontece comigo: sonhos demais, pensamentos demais!!! Talvez seja a hora de parar com isso. Viver um pouco mais com objetivos. Ser mais comum. Gostar do que todo mundo gosta. Porque todos parecem ser felizes assim. Tenho sempre a impressão deste deslocamento do mundo, nunca me encontro, mesmo estando aqui. Você não me vê? Estou aqui... E falei de mim. E falando de mim talvez tenha achado um pouco de você, pois não é possível fugir disso, dessa nossa unidade universal, a natureza. Queria que a primeira mensagem do ano fosse diferente, mas não deu...